domingo, 25 de abril de 2010

Tudo muito gay

Aqui embaixo estão trabalhos que foram feitos na aula de produção de textos, é tudo muito gay, dois descritivos e uma narração, a parte boa dessa aula é que acabo tendo material para colocar aqui. Não foi feita nenhuma revisão e os textos estão fudidos na sintaxe e pontuação mas vá lá...

A rosa sem pétalas

Encontrei Maria Alice que bebia sozinha no botequim na noite de natal. Senti-me compelido a lhe fazer companhia. Cruzei a rua deserta e aproximei-me do depressivo boteco, que ostentava uma iluminação fraca, amarelada, morta. Maria Alice continuava segurando o mesmo copo de cerveja desde quando a avistei, seu olhar estava longe, como que vislumbrando um sonho. Estava linda, muito bem vestida, pesados brincos prateados pendiam-lhe nas orelhas, um forte rastro de lápis negro riscava-lhe as margens dos olhos.
Fui notado pouco antes de me aproximar de sua mesa, seus olhos fitaram os meus, estaticamente, “oi” ela me disse, respondi com a mesma interjeição, ato contínuo, sentei-me e lhe perguntei o que fazia ali. “Você soube?” ela disse, respondi que sim, e disse que sentia muito. Ela então relatou que estava em casa, e movida pelo espírito do dia, arrumou-se quase que instintivamente. Pensou que se fizesse isso, algo apareceria para tirá-la do poço de depressão em que se encontrava. Perguntei-lhe onde estavam suas amigas, e ela respondeu que todas viajaram para festejar na casa de parentes. Perguntei-lhe então por que ela também não viajou à casa de algum parente. Ela disse que nunca se deu bem com seus tios e tias, e que mesmo as circunstâncias não mudariam isso.
Os papéis se inverteram e agora era ela quem me perguntava o que eu fazia andando por aí nessa noite. Disse-lhe que gostava de andar a essa hora, e que além do mais, minha família não comemora o natal, mas aproveitavam o feriado para visitar parentes, e eu, como detesto visitar parentes, sempre era deixado sozinho em casa nesse dia. Seu rosto demonstrou espanto por não saber desse detalhe sobre minha vida, mesmo me conhecendo a tanto tempo. Ela então questionou se eu não teria parentes na cidade que comemorassem a data, respondi que sim, mas que eu realmente não dava a mínima. Fui atingido por um leve olhar de censura, que se perdeu no que parecia ser gratidão por eu estar lhe fazendo companhia.
Ela fez um comentário sobre eu desperdiçar minha opção de passar o natal com familiares, enquanto que ela daria tudo por tal programa, mas tudo que lhe restara fora uma casa vazia. Nesse momento, após uma longa golada no copo de cerveja, seus olhos ficaram vermelhos, e uma grossa lágrima escorreu pelo canto esquerdo do rosto. Disse-lhe novamente que sentia muito. Fui preenchido por um forte sentimento de pena, que misturado com seu lindo rosto, fizeram-me convida-la a minha casa, mesmo correndo o risco de ser mal-interpretado. Disse-lhe que poderíamos ver um filme, ou comer alguma coisa. Ela enxugou as lágrimas do rosto, e ostentou um leve sorriso, dizendo que ficaria feliz em me acompanhar.
Iniciamos nossa caminhada até minha casa. Na faixa de pedestres, enquanto aguardávamos que a torrente de carros cessasse, Maria Alice pegou em minha mão, e me lançou um largo sorriso, em sincera felicidade, aparentando ter esquecido ao menos por um momento o terrível acidente que levara seus pais e irmãos.

Seu Joaquim

O ar do quarto era espantosamente leve, sereno, contrariando qualquer expectativa macabra do cenário. Assemelhava-se a um santuário, meticulosamente bem arrumado, como se houvesse sido previsto que, ao despejar da manhã, diferentes vultos por ele transitariam. Muitos, estranhos, maculando-o por mera curiosidade.
Ao centro do quarto, a fúnebre cama suportava todo o peso de seu descanso final. Jazia de atravessado, com as pernas para fora do ataúde que a cama se tornara, como se seu último ato no universo tivera sido em um frustrado esforço inumano para erguer-se e encarar o fim de pé.
A sombra da morte não lhe roubara o semblante apaziguador, que em vida, se fez muito útil em situações exatamente iguais a esta. Trazia o véu da face esticado, livre das usuais rugas, como se tivesse sido polido com destreza ao decorrer de sua ultima noite.
Tocava o chão com as pontas dos pés, como que simbolizando uma pequena conectividade com o que ficara para trás. A chama do sol atravessava a janela, fulminando-o ao centro do peito, projetando no mesmo um luminoso triângulo, alheio ao fato de que seu calor e ternura já não poderiam mais ali ser sentidos.

A Passeata

O asfalto era esfarelado e irregular, parecia armazenar cada centímetro de poder do sol em suas entranhas para depois atira-lo em forma de ondas calorosas contra o comboio de pessoas. Havia de todos os tipos, homens arruinados, mulheres desesperadas, infantes de rosto sujo, com expressões que eram claramente traduzidas em dúvidas sobre quem seria o causador da tenebrosa andança.
Às janelas de algumas casas, faces mais entendidas forçavam o cenho para projetar um inexistente respeito. No entanto, era possível observar dentro das mesmas, alguns vultos onde só se distinguiam os luminosos feixes salgados das lágrimas, que escorriam pelas sinceras máscaras de tristeza.
Trajes escuros e lenços umedecidos eram como os uniformes desta distorcida passeata, que tinha como objetivo zelar pelo destino da casca que ficara, e despedir-se do conteúdo que sumira de dentro dela.
Á frente de todos, fortes braços, erguidos, levavam a retangular caixa. Era quase como se a erguessem aos céus, esperando por um divino arrebate que lhes descansariam os braços, pesados física e sentimentalmente pelo finado conteúdo que nos mesmos jazia.