sábado, 22 de maio de 2010

O PASSARINHO NÃO TRABALHA

Empregada no Banco do Brasil, Béia – apelido dado pelos colegas de trabalho – era o ápice do funcionário exemplar. Entregava todos os relatórios antes do tempo, era exímia no atendimento dos clientes e era candidata preferida ao cargo de gerente da agência.
“Não devo ter as expectativas altas, pode ser que não aconteça”, era o pensamento constante de Béia, que perdia o sono pensando na promoção. Não dava atenção ao marido e menosprezava as necessidades dos filhos, tinha a mente completamente voltada ao trabalho.
Esta falta de atenção à família, na verdade, já acontecia há muito tempo, mesmo antes da possibilidade de promoção. Béia sempre se focou apenas no serviço, sob pretexto de que assim alcançaria uma condição melhor, e com isso, poderia passar mais tempo com sua família, mas a verdade é que o desejo de ser reconhecida era antigo, ser bem sucedida sempre foi o maior gol de sua vida.
Enfim, numa manhã enquanto atravessava a rua que dava ao banco onde trabalhava, Béia avistou, dentro deste, uma enorme faixa vermelha, linda, reluzente, com lantejoulas que diziam “PARABÉNS, BÉIA, NOSSA NOVA GERENTE”. O susto e felicidade foram tão grandes, que Béia estacou, no meio da rua. Os pensamentos “Meu Deus! Que felicidade! Até que enfim fui reconhecida pelo meu esforço! Finalmente terei liberdade no trabalho! Finalmente terei tempo para minha família!”, foram os últimos que teve, antes de ser atingida em cheio por um caminhão de bombeiros, lindo, novo, reluzente. Morreu ali, em pedaços, Béia, cuja família não chorou no velório nem tão pouco sentiu falta.

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